Poupar com medo e sem medo

Hoje é o dia Mundial da Poupança. Para o comemorar, vou transcrever na íntegra o editorial de ontem do Jornal de Negócios, da Helena Garrido:

Precisamos de poupar. Porque gastámos no passado o rendimento do presente – é isso que significa ter dívida. Porque a sociedade portuguesa está a envelhecer. Porque só através da poupança podemos garantir o desenvolvimento e a autonomia em relação aos credores. Mas estamos a poupar menos. Eis uma boa oportunidade para um governo actuar: adoptar medidas para incentivar a poupança. Infelizmente estamos em risco de assistir à terapia do consumo, exactamente aquilo que a economia não precisava neste momento.

O Dia Mundial da Poupança, que se assinala a 31 de Outubro, é a data certa para se identificarem as políticas que poderiam e deveriam ser adoptadas para evitar que se regresse irresponsavelmente à euforia do consumo. Literacia financeira e medidas que incentivem a poupança deveriam ser os dois pilares fundamentais dessa política.

É verdade que há muitas famílias que não conseguem poupar. O seu rendimento quase não chega para suportar as despesas básicas. Mas também é uma realidade, levando em conta o estudo da Deco, que algumas dessas famílias têm margem para fazerem uma gestão mais racional dos seus rendimentos. Gastar mais em telecomunicações do que em alimentação indicia uma distorção na hierarquia de valores.

Porque deve o Estado preocupar-se com a hierarquia de valores revelada pelas despesas? Exactamente porque contribui para uma sociedade mais desenvolvida, com maior capacidade crítica para realizar as escolhas de consumo e entre consumo e poupança. Há muito tempo que devíamos ter programas massificados de literacia financeira. Estamos melhor do que no passado, mas ainda longe do que se possa considerar bom.

Mais importante ainda são os sinais que dão as medidas adoptadas pelos governos. Passado o medo que nos fez poupar, deviam chegar agora incentivos à poupança e desincentivos ao consumo. Se, como parece ser cada vez mais provável, tivermos a aprovar legislação um governo liderado pelo PS com apoio à esquerda, vamos ter medidas que a economia portuguesa não precisava neste momento. Quando o medo passa, num país endividado e a envelhecer, é preciso incentivar a poupança sem medo. E não deitar gasolina na fogueira consumista que já começa a arder. Pela nossa parte estamos a fazer o nosso trabalho de serviço público, oferecendo aos nossos leitores um guia para gastar menos e poupar mais.

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