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Coisas que uma empresa pode fazer a um cliente, mas que um cliente não consegue fazer de volta

Os balcões virtuais, sites, atendimentos eletrónicos e outras modernices tecnológicas trouxeram-nos todo um novo modo de relacionamento com quem temos contratos ou pretendemos adquirir produtos ou serviços.

A partir do momento em que nos relacionamos pelos meios eletrónicos, damos às empresas todo um novo manancial de ferramentas para nos facilitarem as interações, mas, infelizmente, também para nos destratarem.

Há todo um mundo novo do desequilíbrio entre o cidadão individual e as pessoas coletivas.

Acredito que o respeito deve ser baseado na reciprocidade. Se alguém não nos respeita, trata-nos de maneira distinta da que espera ser tratado. Isto desequilibra substancialmente as relações quando, para além do trato social, são também dados direitos sem que tal se justifique. Mas isto é conversa para aquele outro blog.

Decidi por isso fazer uma pequena lista destas formas de tratamento que as empresas passaram a deitar mão, mas que não estão facilmente acessíveis aos cidadãos individualmente:

  1. Enviar SMS ao qual não é possível responder de volta.
  2. Gravar as interações com os clientes e recusar serviço se não o autorizarmos, enviando-nos para “as vias alternativas”.
  3. Apenas aceitar resposta por carta, mesmo quando todos os contactos iniciados pela empresa nos chegam por todos os outros meios.
  4. Por um robô a atender-nos.
  5. Entrar na nossa rede doméstica através do router que lhes alugámos, alterar configuração e não deixar qualquer registo consultável desse acesso no equipamento ou noutro lado qualquer.
  6. Solicitar o nosso número de contribuinte ou outro tipo de identificação para iniciar um contacto telefónico.

Acabar com a mudança da Hora?

Há muito que se sabe que a mudança da hora não se traduz nos benefícios propagandeados. E cada vez mais se descobrem outros efeitos negativos

Depois da Rússia ter acabado com a mudança da hora, são cada vez menos as regiões do Planeta que insistem em mudar os relógios duas vezes por ano, conforme se pode ver pela imagem abaixo, retirada deste artigo do Wikipedia. Basicamente, falta a Europa e partes da América do Norte:

A Comissão Europeia decidiu fazer uma Consulta Pública deste assunto. Não me parece que vá dar em nada, até porque falta imensa informação para contextualizar a discussão. O pedido origina essencialmente do Norte da Europa, mas também nos afecta a nós.

Para formar a minha opinião, olhei com muita atenção para o gráfico deste artigo, e que reproduzimos a seguir. Ele mostra-nos a evolução da duração do dia, ao longo do ano, para a região de Lisboa:

Horas de Sol em Lisboa

Conforme se pode observar, a mudança da hora serve sobretudo para estabilizar a quantidade de sol que existe quando acordamos. Tal tem implicações porque as crianças têm que se levantar para ir à escola, nós temos que ir trabalhar, e a Sociedade tem que estar a mexer a uma certa hora. Tudo se complica mais à noite, pois sabemos que a noite chega muito mais tarde no Verão.

Qualquer opção neste domínio promete ser complexa. A Rússia mudou há uns anos, e voltou a mudar uns anos depois. Experiências neste domínio têm ocorrido, quase sempre sem bons resultados. E basta lembrarmo-nos da mudança que ocorreu em Portugal entre 1992 e 1996…

Assim sendo, pessoalmente prefiro que se acabe com isto da mudança da hora, e que Portugal adopte a Hora de Inverno. É claro que no Verão vai ser dia às cinco da manhã, e vai ser noite mais cedo. Mas não acredito que seja para já, até porque qualquer que seja a decisão, mesmo de manter, haverá sempre uma grande confusão associada…

Em qualquer caso, não deixe de dar a sua opinião!

 

Trabalhar menos?

Por todo o lado somos inundados de suposto conhecimento, que nos vai moldando aqui e acolá na nossa forma de ser. Mas há que separar o trigo do joio, e isso parece uma guerra perdida nos dias de hoje! Para mim, começa a ser penoso ler a maioria da “informação” que me chega, tal é a quantidade de “fake-news” que consigo apanhar… Uma das mais aberrantes dos últimos dias aconteceu com a leitura dum artigo da BBC. O título provocante é qualquer coisa do género: argumentos convincentes para trabalhar muito menos.

De tanta confusão espalhada no artigo, com muito nonsense misturado, há uma em que até se verifica que é o próprio autor que fica confuso:

  • Even on a global level, there is no clear correlation between a country’s productivity and average working hours. With a 38.6-hour work week, for example, the average US employee works 4.6 hours a week longer than a Norwegian. But by GDP, Norway’s workers contribute the equivalent of $78.70 per hour – compared to the US’s $69.60.

A lógica da batata é a de que os Americanos trabalham mais que os Norugueses, mas que em termos do PIB o contributo dos Noruegueses é maior? Ou seja, e para reforçar a suposta revelação do artigo, trabalhando menos que os Americanos, os Noruegueses produzem mais! Esta lógica da batata é muito comum por aí, e particularmente comum quando se fala de produtividade. E o autor obviamente não conhece a máxima de que correlation doesn’t prove causation

O problema do autor deste artigo, e de muita gente que manda bitaites neste domínio, é que não se preocupa minimamente em perceber como é que, neste caso, os Noruegueses conseguem tal milagre? Mas, se olharem com atenção para o gráfico abaixo, rapidamente percebem que cerca de 60% das exportações lá do sítio, em 2009, vinha dos combustíveis fósseis. Assim, também os Portugueses seriam provavelmente produtivos:

Exportações da Noruega em 2009

Acontece que o petróleo e o gás natural estão a acabar no Mar do Norte. E de então para cá, a percentagem tem vindo obviamente a baixar. E o que está a acontecer ao PIB da Noruega, e à produtividade num País onde se trabalha menos? O resultado está no gráfico seguinte, onde se verifica que o rombo é ainda maior que em Portugal (gráfico obtido via este link).

PIB Noruega vs Portugal

É natural que eles estejam por isso alarmados. E as recentes eleições foram um quanto espectaculares, com a esquerda tradicional a prometer um aumento de impostos, a ganhar as eleições, mas a não resistir a uma manutenção de uma espécie de geringonça ao contrário lá do sítio. Enfim, a menos que descubram mais uns poços, e os aproveitem, os maiores produtores de petróleo e gás natural da Europa deixarão de ser um exemplo…

Para onde irá a água das cheias em Lisboa?

No outro dia, no Diário de Notícias, voltei a ver a referência à construção dos dois túneis que a Câmara Municipal de Lisboa quer construir para evitar as cheias pontuais na cidade. Convenhamos que 180 milhões de euros não é coisa pouca, ainda por cima para resolver um problema que nos dizem que será cada vez menos frequente, dada a tendência da Península Ibérica se tornar numa espécie de deserto

Desperdiçar dinheiro é um hobby dos políticos nacionais. Algumas vezes é preciso ouvir as vozes lá de fora para perceber as coisas, como foi o caso da comissária europeia da Política Regional, Corina Cretu, que explicou: “Tendo em conta o facto de o município de Lisboa não ser uma das 22 áreas específicas de risco potencial significativo de inundação identificadas para Portugal continental, não se prevê o financiamento do plano de drenagem de Lisboa ao abrigo do programa do Fundo de Coesão para Portugal para o período de 2014-2020 (PO SEUR)“. Existe no site da Câmara de Lisboa uma página do projecto, sendo ainda recomendável a leitura do Plano Geral de Drenagem de Lisboa. Aí se verifica que até existem muitas outras soluções, mas que aparentemente não merecem a mesma importância dos políticos…

A discussão para mim, no contexto também das recentes notícias sobre a seca, deveria ser a de aproveitar a água das chuvas para sustentar a cidade de Lisboa, em vez de a despejar imediatamente no rio, donde segue imediatamente para o mar! E aí reside o erro profundo deste projecto da Câmara Municipal de Lisboa…

Não faltam soluções simples e económicas para este problema. Já há muitas décadas, Gonçalo Ribeiro Telles dizia que um dos problemas principais de Lisboa era a de haver pouca infiltração de água das chuvas nos solos. Um bom exemplo que deveria motivar Lisboa é o que se faz em Barcelona (brevemente referido no Plano de Drenagem), cidade também inclinada, e com forte concentração de chuvas em poucos dias do ano. O sistema tem algumas desvantagens, sendo o principal o não aproveitamento dessas águas, uma vez que se misturam com águas de esgotos. Ainda assim, é possível o tratamento dessas águas, para que elas não cheguem sem qualquer tratamento ao mar, como vai acontecer com os túneis de Lisboa.

Por falar em Tejo, em que se sente o impacto da poluição em tempos de maior seca, há que referenciar o excelente exemplo de Madrid. Os “Tanques de tormentas” de Madrid, asseguram que a água que chega ao rio Manzanares (e depois ao Tejo) seja menos poluída. Madrid assim assegura o que não se verificará em Lisboa: que a água que vem das chuvas, e arrasta muita porcaria, vai libertar essa porcaria directamente no Tejo.

Os exemplos de Barcelona e Madrid são referentes quase exclusivamente a depósitos enterrados. As bacias de retenção à superfície são uma forma muito simples de conjugar armazenamento de água de uma forma temporária. Em Lisboa há um que é mais significativo, o Parque Oeste do Alto do Lumiar, mas que tem revelado vários problemas de manutenção. É interessante verificar que havia duas propostas de implementação deste tipo de soluções, mas elas foram preteridas em função dos túneis, como se pode ver nos capítulos 9 e 10 do Plano Geral de Drenagem de Lisboa.

As bacias de retenção podem revestir formas muito agradáveis, como se pode ver no vídeo abaixo, sobre a Praça da Água de Roterdão. É apenas a peça de um puzzle maior, no âmbito de um projecto estruturado, chamado waterplan2:

Apesar de Roterdão ser um exemplo mundialmente famoso nesta área, não é difícil encontrar na Internet mais bons exemplos em ambiente urbano:

Mas os exemplos de que gosto mais são o de infraestruturas multi-uso. Neste domínio, um bom resumo nesta área é dado por esta página, onde podemos ver referências às cidades de Washington, Kuala Lampur e novamente Roterdão, onde parques de estacionamento e mesmo túneis rodoviários são utilizados em caso de emergência como bacias de retenção.

Enfim, temo que já não se vá a tempo de tornar a capital mais sustentável. É mais um aspecto que contribuirá certamente para a degradação futura desta cidade…

Previsões do IPMA

Neste artigo, fizemos uma análise às previsões do fim de semana de meados de Outubro, quando grandes fogos tiveram um impacto devastador no nosso Pais. Na altura decidi que iria fazer uma análise adicional às previsões de precipitação que eram feitas pelo IPMA.

Desde então, tenho seguido o site do IPMA todos os dias, e nas duas últimas semanas, têm sempre anunciado chuva para dali a uns dias. O problema é que nunca mais chove! A análise que se segue é relativa a Lisboa, mas cenário semelhante parece ter ocorrido para grande parte do resto do País. Os dados observados foram analisados ontem, pelo que dizem respeito às previsões até ao final da tarde de ontem, 20 de Novembro.

Para uma compreensão dos seguintes parágrafos, é necessário clicar na imagem, para ver o seu detalhe. Mesmo assim, na maior parte dos browsers será necessário clicar outra vez para ampliar. Note-se que as imagens têm uma grande dimensão!

Todas as horas observamos as previsões do IPMA para os dez dias seguintes, começando a 5 de Novembro. Em cada uma dessas horas foi construída uma coluna no gráfico abaixo. Para cada uma dessas horas, há previsões para os seis dias seguintes com uma resolução de três horas, com mais quatro dias de previsões com uma resolução de 24 horas. Tal faz com que no fundo dos dados de cada coluna haja valores em branco. Como é fácil de verificar se se observar o detalhe dos dados, as previsões do IPMA são feitas a cada doze horas, ao início da manhã, e ao início da noite.

Os valores observados no gráfico são relativos à probabilidade de precipitação. Para uma interpretação rápida dos dados, colocamos um fundo a cyan quando a probabilidade se encontrar entre 1% e 32%, um azul leve para uma probabilidade entre os 33% e 66%, e finalmente um azul mais escuro entre os 67% e os 100%:

Tomando a primeira coluna como exemplo, vemos que ela foi observada pelas 00:41 de dia 5 de Novembro. A essa altura, o IPMA previa 2% de probabilidade de precipitação para as primeiras horas de dia 9 de Novembro e para as últimas seis horas do mesmo dia 9. Previa ainda 2%, 6%, 2% e 2%, para os dias 10, 11, 12 e 13, respectivamente. À medida que vamos avançando nas colunas para a direita, vemos que os “azuis” vão afundando. Isso significou que, primeiro, as previsões anteriores de precipitação se iam esfumando, enquanto se voltava a apresentar possibilidades de precipitação mais distantes no tempo. As percentagens vão subindo, com as previsões efetuadas por exemplo na manhã do dia 11 de Novembro, a apontarem mais de 40% de probabilidades de chuva para a passada sexta-feira, dia 17 de Novembro, que sabemos ter sido um dia de sol radioso em Lisboa…

Interessante é igualmente fazer a análise na horizontal. Para além dos blocos iguais de 12 em 12 horas, assiste-se quase sempre a uma redução das probabilidades de precipitação, até atingirem os 0%… É aí que a chuva se esfuma?

A probabilidade de precipitação não deixa de ser um conceito interessante. Já me perguntei o que significará, por exemplo, uma probabilidade de 2% de chuva num dia? O IPMA vai todavia mais longe, e diz-nos qual a classe de intensidade da precipitação prevista, categorizando como fraca, moderada e forte. Estas outras previsões estão documentadas no outro gráfico abaixo. Os valores são de 1, 2 e 3, sendo que para o valor 1 colorimos o gráfico com cyan, para o valor 2 colorimos com um azul leve, e para o valor 3 colorimos com um azul escuro.

Note-se que o gráfico abaixo é um subconjunto das previsões anteriores, começando no dia 10 de Novembro. O gráfico é maior, porque neste domínio o IPMA dá uma resolução horária para os dois/três primeiros dias, seguindo-se uma resolução de 3 horas para os três dias seguintes, e resoluções de 24 horas para os dias restantes. Note-se que nesta variável, existem previsões que variam fora de intervalos de doze horas, a sugerir que os algoritmos serão distintos.

Previsão IPMA

Como é fácil de observar, também aqui a chuva se esfuma. Desde o dia 10 que há previsões de chuva para Lisboa, com as primeiras a terem sido também previstas para o dia 17, neste caso numa previsão ao final de dia 10 de Novembro. Nos dias subsequentes, as chuvas foram sendo sucessivamente adiadas, sem nunca se concretizar.

Eventualmente, sabemos todavia que irá chover. E aí provavelmente será proclamado que se havia previsto precipitação para essa ocasião. O problema é que se anda a prever que chova há muito mais tempo. E essas más previsões têm tido impacto naquilo que eu faço, e concerteza nos decisores, que se veêm a braços com situações complexas de falta de água, e que também, já devem estar “cheios” destas previsões falhadas…

Previsões do IPMA na linha da frente!

Este fim de semana foi um bocado atípico. Sabia pelas previsões de tempo que vinha aí a chuva. Nesse sentido, preparei-me fazendo limpezas e mais algumas coisas de prevenção. As previsões que vira durante o Domingo, levantavam-me todavia uma grande dúvida: segundo o IPMA, a chuva ia começar na madrugada de segunda-feira, e ía ser forte durante essa mesma madrugada, chovendo durante o resto do dia. Mas, segundo o site do IST, site que utilizo em vários contextos, a chuva só começaria mesmo ao final do dia de segunda-feira!?

Não liguei muito ao assunto. Afinal, estava numa de prevenção pessoal.

Ontem, de manhã, quando acordo, fiquei surpreendido em ver o chão seco! Aliás, algo que tinha que fazer antes de ir para o emprego, ficou logo com planeamento confuso. Mas, a vida prosseguiu…

A caminho do emprego, quando ouço as notícias, e vejo as desgraças associadas aos fogos florestais, e ao facto de eles se manterem, fez-me associar que talvez também não tivesse chovido no resto do País.

Uma consulta rápida ao telemóvel permitiu-me constatar que a página do IPMA do dia anterior não desaparecera ainda:

Previsão do IPMA ao final de Domingo

A pensar nas previsões do IST, tirei também logo um printscreen da previsão da manhã. Como podem ver, a previsão então era que começasse a chover ao início da tarde:

Previsão do IPMA ao início da manhã de ontem

Não tardou muito para que a chuva levasse outro chuto, neste caso de 6 horas:

Previsão do IPMA a meio da manhã de ontem

Entretanto, lembrei-me de ir ver se estava efetivamente a chover, ou não. As imagens do radar do IPMA diziam que sim:

Quando de seguida fui ver quantos mm de chuva tinha efetivamente chovido, qual não é a minha surpresa com a quase totalidade ausência de chuva???

Chove, não chove, talvez chova? Enfim, há muito a investigar neste IPMA.

Não é preciso pesquisar muito na Internet para descobrir que estas previsões são possíveis porque o IPMA adquiriu em 2014 o supercomputador P7, que custou uns módicos 800.000,00 euros, e que produz estas previsões que a Ministra Assunção Cristas na altura dizia colocarem o IPMA “na linha da frente”…  As mesmas previsões que permitiram induziram ao Primeiro Ministro a dizer ante-ontem, dia 16 de outubro, ( pelas 02:30 da madrugada que “as previsões da evolução meteorológica podem permitir alguma esperança nas zonas do litoral”. Foi o que se viu… As primeiras chuvas só chegaram ontem pouco antes das 22 horas.

(Revisto dia 18 de outubro de 2017)